Sonhadores ou Iludidos ?!


Revi, pela milésima vez, e acabei tentada a "externalizar" meu encanto por Os Sonhadores de Bernardo Bertolucci no qual o diretor faz uma sátira velada a revolução dos estudantes na primavera de 1968 em defesa de uma causa válida, no entanto foi essencialmente burguesa, e por si só, cunhada de futilidades.

Quando menciono futilidades me refiro aos ideais torpes burgueses os quais entre safras caras de vinhos, a voz estridente de Japolin, e um confortável imóvel na, custosa, Paris um dos protagonistas disserta sobre Mão Tsé-Tung e sua legião (lê: se: exército) punhando os livros vermelhos fazendo uma revolução "com livros e não armas", ou seja, é fácil ser revolucionário ainda mais em uma situação similar de comodidade onde se caracteriza uma geração pseudo-revolucionária. Com uma tríade amorosa tendo a função de gancho da história onde o erotismo, incesto, discussões inflamadas e uma paixão comum pelo cinema criam uma atmosfera sedutora e, por vezes, intrigante.

Recheado de cenas bem elaboradas com jogos de câmeras(não me atrevo a menções técnicas!), referências a filmes como Bande à Part de Godard em cenas encarnadas pelos atores e amostras das mesmas no original, a tendenciosa relação homossexual dos personagens não revelada e somente subtendida, a omissa educação dos seus pais permitindo todos os acessos inimagináveis (e pensar que hoje jovens como eles são os alicerces da democracia francesa) e obsessão pela juventude de Bertolucci. Os Sonhadores acaba sendo mais do que filme trincado de bons diálogos, de idolatria ao belo, citações aos clássicos do cinema contemporâneo, mas também uma infindável crítica a nossa sociedade, uma sociedade que finge tudo.

Da indignação a até sua felicidade


O Céu de Suely



O projeto Cinema BR em Movimento e o Grupo de Pesquisa em Análise de Crítica de Cinema (GRACC) convidam para a exibição do filme O Céu de Suely do diretor Karim Aïnouz no dia 23 de maio às 8:30 h no auditório da UCSal, campus da Lapa na Av. Joana Angélica, Nazaré, com a presença dos professores Roberto Duarte e Eduardo Ayrosa e do produtor e crítico Cláudio Marques.
Além da película de Karim Aïnouz, teremos a apresentação do curta Polifonia, de Diogo Dahl e posteriormente uma mesa de debates sobre os filmes.

Um convite às risadas (de nós mesmos)!


Vamos lá! Você já deve ter ouvido falar nessa conversa de que o brasileiro ri da própria miséria! Pois bem, se é verdade ou não, é fato que esse tal brasileiro, que mais parece o fulano chamado Brasileiro, acaba por atenuar um pouco o fardo que por direito seria nosso. Contudo, o que vale mencionar é que, se rimos ou não de nós mesmos (e de nossa miséria), este assunto acabou por se tornar uma brecha que a cinematografia brasileira encontrou pra se expressar. O filme “O Diabo a Quatro”, de Alice de Andrade, é um deles. O enredo gira em torno de quatro personagens singulares que se enlaçam nos limites do bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro. A película mostra algumas das tantas imperfeições do quadro social a partir de uma trama baseada principalmente no caráter excêntrico da narrativa e personagens. O que comumente poderia se tornar um “filme engajado”, mostra ser uma produção descompromissada em buscar alternativas para sanar os problemas sociais do país, ou seja, o filme é uma tentativa de distanciamento dos enredos clichês e de exploração de formas alternativas de contar os fatos impregnados na teia social. A comédia tem um outro propósito: vamos rir de nós mesmos! E, ainda que não existam claros motivos para as risadas, o que vale mencionar é que, mesmo com uma narrativa um pouco conturbada, o filme além de ter uma bela composição imagética, possui uma trilha sonora perfeitamente convidativa ao enredo.

O Cheiro do Ralo


Eu queria falar primeiro sobre o documentário "Pro dia nascer feliz" mas deixo os comentários para Fernanda que também gostou do filme. Falo então do "O cheiro do ralo"de Heitor Dhalia, 2006. A abertura do filme com uma câmera subjetiva seguindo a generosa Bunda da personagem-garçonete de nome impronunciável já demarca o território de provocação do Cheiro do Ralo. Ela (a bunda) será também um personagem que povoa a mente escrota de Lourenço (Selton Melo, melhor do que nunca) e que o faz perder cabeça e a vida. A identificação é imediata com este homem de hábitos rígidos que vive numa rotina insuportável envernizada por um cenário arquitetônico anos 70. A propósito, o filme flerta fortemente com a estética setentista, seja nos ambientes da casa (mesa de fórmica e TV de caixote de madeira) e do escritório (de compra e venda de produtos usados) seja no carro velho - uma perua, me parece, de Lourenço. O filme é, sem dúvida, uma homenagem ao retrô e seus enquadramentos com planos fixos emolduram a cena nostálgica. O personagem vive na merda mas escolhe bem seus interlocutores de compra a ponto de pagar 400 reais por um olho de vidro e apenas 20 reais por uma caneta de ouro maciço.
Mas não pretendo entrar aqui nos processos de significação do filme, nas possíveis metáforas que a película possa evocar, antes gostaria de mencionar apenas o quanto filme é interessante por destoar completamente desses novos cinemas brasileiros e sobretudo por nos fazer rir de seu genial humor negro. Nada de besteirol e piadinhas baratas sobre a política nacional. Já quero locar "Nina" primeiro filme do mesmo diretor.




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