Dica da semana


Vale a pena visitar o site de Zé do caixão.

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Resenha impressionista



Não raro a escrita da crítica de cinema passa dos limites. Eis um exemplo de um bom crítico brasileiro cujo tom exagerado de impressionismo na resenha comprometeu sua avaliação. E logo sobre a obra de Kubrick!

Terror "classudo" de Kubrick soa muito pedante
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Todos têm os seus gostos, tudo bem. Mas às vezes, manifestar uma preferência parece confissão. Eu, por exemplo, tenho mil vezes mais prazer em rever "Carrie, a Estranha", do que "O Iluminado" (Universal Channel, 23h).
Digo mais um pouco: embora "O Iluminado" provoque uma fria admiração, tenho a sensação de estar diante de um filme extremamente pedante, como se ele quisesse me dizer a cada "take": "Olha, eu sou um filme de terror, mas não como esses filmes de terror que você costuma ver. Eu tenho classe". E Jack Nicholson aparece como a prova final dessa afirmação.
Confesso um pouco mais: a maior parte dos filmes de Stanley Kubrick anda me aborrecendo profundamente, com exceção de "O Grande Golpe", de "Laranja Mecânica", este, de fato, um filme e tanto.
Dizem que Kubrick era um grande artista e, pessoalmente, um grande chato. Sobre a primeira afirmativa, o tempo dará a resposta final.

Walter Salles em Paris, Te Amo


SÃO PAULO (Reuters) - O filme coletivo "Paris, Te Amo", estréia deste domingo na 30a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, é uma produção francesa que tem um de seus 18 segmentos dirigido pelos brasileiros Walter Salles e Daniela Thomas.

Neste projeto, diretores de todo o mundo foram convidados por produtores franceses para filmar uma história de amor em cinco minutos, que teria necessariamente de ambientar-se em algum lugar de Paris. Ao final, todos os episódios foram montados num único longa.

É surpreendente como a montagem final -- supervisionada por Simon Jacquet e Frédéric Auburtin -- assegurou um resultado final equilibrado, alternando momentos dramáticos, cômicos e fantásticos num ritmo fluente.

No episódio dos diretores brasileiros, "Longe do 16o", a atriz colombiana Catalina Sandino Moreno (indicada ao Oscar em 2005 por sua atuação em "Maria Cheia de Graça") é uma babá, moradora da periferia de Paris.

Ela vive a angústia de deixar para trás seu próprio bebê aos cuidados de outros numa creche, enquanto trabalha num bairro nobre -- o 16o distrito de Paris -- justamente cuidando do filho do patrão. O amor escolhido pelos diretores brasileiros, assim, foi o amor materno.

Durante o Festival de Cannes, em maio último, quando "Paris, Te Amo" abriu a prestigiada mostra paralela Un Certain Regard, o episódio de Salles e Thomas foi apontado como um dos melhores pelo crítico Jean-Philippe Guerand, da revista "Le Film Français".

Por Neusa Barbosa e Alysson Oliveira, do Cineweb

Site: http://www2.uol.com.br/mostra/30/

Cancelado projeto figuraça na UCSal


Lamentamos informar que o evento marcado para o dia 26.11 não mais ocorrerá nesta data. Infelizmente, o TRE utilizará o prédio como sítio eleitoral. Em breve, nova data será divulgada.

Projeto Figuraça na UCSal

4o. Festival Internacional de Cinema Documental de Lisboa






"O doclisboa é o único festival de cinema em Portugal exclusivamente dedicado ao documentário. Em 2005, na sua terceira edição, o doclisboa apostou na capitalização do renovado interesse dos espectadores portugueses pelo documentário e conseguiu trazer às salas da Culturgest um público muito numeroso e entusiasta. O doclisboa foi o festival de cinema com maior afluência de público realizado em Lisboa em 2005 (18.500 espectadores). O doclisboa 2006 trará novamente a Lisboa, em primeira-mão, o melhor da produção nacional e internacional de documentário: dez dias de projecções em regime intensivo, ainda com mais filmes, mais secções e mais actividades complementares do que nas anteriores edições".


Como você, que deu aulas nos Estados Unidos e na França, vê a crítica de cinema que é feita em jornais e revistas de grande circulação -de cunho jornalístico, portanto- e a que é feita na academia, nesses dois países?






Ismail: Com relação à questão das correntes críticas nos Estados Unidos e na França, temos que distinguir os veículos dentro dos quais elas se manifestam. Nos dois países -e a gente pode incluir também o caso brasileiro-, existe a crítica de jornal e de revistas, que tem uma periodicidade mais acelerada (na França, os “Cahiers du Cinéma”, como a “Sight and Sound”, na Inglaterra, a “FilmComment” e a “Cineaste”, nos Estados Unidos) e definem espectro de respostas ao que é contemporâneo em termos de produção, de debate estético, de relação com determinados filmes e cineastas, ou determinados conjuntos nacionais.

Por outro lado, desde que o mundo universitário passou a fazer parte do contexto geral de reflexão, crítica e produção de textos, ele trouxe outro recorte e um estilo de reação que tem outra temporalidade e se apóia de forma mais sistemática na pesquisa, seja histórica, seja no plano teórico propriamente dito. Isto muitas vezes gera o que já vimos acontecer com a crítica literária há mais tempo: tensões, disputas de hegemonia entre o jornalismo e a academia. Em caso extremo, preconceito mútuo.

Tenho um exemplo a partir de uma experiência que tive na França, quando estava na Universidade Paris III, em 1999. A crítica Sylvie Pierre, que permanece distante da academia, me convidou para participar de um colóquio sobre a crítica de cinema, na Normandia, onde fica Moulin d’Andé, moinho medieval em que Truffault filmou parte de “Jules et Jim”, o que tornou a locação algo mítico no mundo do cinema, resultando na criação de um centro para o apoio a roteiristas, o o Ceci, que ganham bolsa para lá desenvolver os seus trabalhos. O colóquio reuniu pessoas que eram da política das revistas, como “Vertigo”, os “Cahiers du cinéma”, “Trafic” etc. “Vertigo” é revista que reúne críticos e professores, como Jean-Louis Leutrat e Suzanne Liandrat-Guigues, e tem uma periodicidade irregular, não saindo mais do que duas vezes ao ano.

Ali ficou muito clara a situação na França. Percebi uma tensão limite entre os críticos e o pessoal da universidade. E o ponto de tensão vinha do fato de que a premissa dos críticos era de que quem fazia o trabalho árduo de juízo de valor, de configuração de uma hierarquia que permita apontar o que é melhor e que vale mais a pena você estudar com atenção, quem hierarquizava o campo e dava a pauta, era a crítica dos periódicos.

A academia vinha depois e se apoiava nesse campo já mapeado e fazia trabalhos que poderiam aprofundar determinadas análises, que poderiam fazer conexões históricas, poderiam entrar em detalhes com relação a determinadas obras, trazendo uma ampliação de repertório. Claro que há diferença entre esses dois momentos, mas não vejo motivo para hierarquizá-los, para definir porque um é mais importante do que o outro. O fato de um preceder cronologicamente não lhe dá uma precedência lógica, de contribuição para a riqueza do campo, pois a longo prazo um tipo de produção incide sobre a outra numa relação circular.

Afora o fato de que muitas vezes a mesma pessoa se envolve nas duas pontas do processo, da resposta imediata e mais polêmica, e da revisão e de balanço, de pesquisa histórica e teórica que também podem trazer polêmica, revisão de valores, nova hierarquia na avaliação de filmes. Para mim, as coisas se somam e devemos descartar o mito de que não há profundidade na crítica nem risco na academia.

Na França e no Brasil, comparados com os Estados Unidos, há mais interação entre o mundo acadêmico e o mundo da crítica. Apesar das tensões todas que eu vi no colóquio, há possibilidade de encontrar em determinadas revistas cuja reflexão influencia diretamente a teoria. Só para ficar no período já marcado pela academia, pensemos em Serge Daney e seu papel na cultura cinematográfica francesa. Isso é mais difícil de encontrar nos Estados Unidos; são dois mundos bem mais distantes; são muito raras as ocasiões em que figuras bem conhecidas no mundo acadêmico têm um papel contínuo no mundo do jornalismo. Por outro lado, existe uma rede mais sistemática de publicações acadêmicas com uma dinâmica interna própria, ele inclusive pode até se descolar da sociedade.




Fonte: Revista Trópico

Mostra de cinema de São Paulo


Visão de macaco Simão sobre a mostra internacional que acontece entre 20 de outubro e 2 de novembro em São Paulo.

"PIPOCA-CABEÇA! Mostra Internacional de Cinema! Maratona de filme-cabeça! E filme-cabeça geralmente é assim: um monte de gente pelada discutindo. E todo ano eu estréio a Mostra com as mesmas definições: Mostra é um filme estranho, falado numa língua esquisita, com uma história desconexa, visto por uma gente escalafobética.
A Mostra é assim: você passa duas horas em pé, esperando o filme começar, e duas horas sentado, esperando o filme terminar. E tudo em língua de país que não tem água potável! Rarará!
E eu adoro a Mostra porque você não encontra ninguém da Blockbuster. Aliás, duas pessoas que você não encontra nunca na Mostra: atendente da Blockbuster e cliente da Blockbuster. E uma amiga minha odeia a Mostra: "Se você me vir entrando na Mostra, pode chamar a polícia que é seqüestro". Rarará!

José Simão - Folha de São Paulo, 17.11.2006.

Walter Salles: o otimista


"Muitas vezes se pergunta por que um filme brasileiro não foi mais longe nas seleções oficiais dos festivais. Vem do encantamento de parte da crítica européia com o cinema asiático. Esse vento começa a mudar à medida que se tem uma cinematografia forte como a que aí está e também novidades da Argentina, do México, do Uruguai. Tenho uma visão otimista dessa progressão. A gente vai ser mais bem recebido do que foi nos últimos anos."
Walter Salles

o cinema e a crítica



Frodon, o cinema e a crítica
por Cléber Eduardo

Onde acaba o cinema e começa o audiovisual? Que alterações a nebulosidade dessa fronteira gerou na crítica? Os críticos seriam, em média, piores hoje? Ou a cultura cinematográfica, também na média, estaria mais rica atualmente?

Essas dúvidas estiveram entre as questões centrais de um encontro de Jean Michel Frodon, editor da Cahiers du Cinéma, com uma platéia de jornalistas e críticos no espaço Reserva Cultural, em São Paulo, durante a manhã de uma terça-feira de fim de agosto. Na mesa, a acompanhá-lo, Amir Labaki, diretor do festival É Tudo Verdade, e Maria Dora Mourão, professora da ECA-USP. Dora foi a primeira a levantar a questão sobre os limites movediços do cinema. A pergunta-resposta de André Bazin (O Que é o Cinema?) pediria uma atualização, constata-se por sua preocupação. E essas mudanças do cinema, com os fluxos de referência multi-direcionais, com a influência de mão dupla entre o ideal do cinema-arte e a prática do cinema-comércio, teriam piorado os críticos? Dora acredita que piorou sim. No Brasil, pelo menos. “A crítica está passando no Brasil por uma grande crise. Talvez isso tenha a ver com as mudanças que estão ocorrendo no cinema”. Amir Labaki discorda: “A crítica hoje é melhor, na média, que era 30 anos atrás, ao menos se levarmos em conta a internet. Mas hoje a crítica está com menor poder de fogo”.

Essa passou a ser o eixo sobre o qual os participantes da mesa falaram: cinema contaminado por outras linguagens, crítica contaminada pelo cinema. Ou mais ou menos isso. Mas o cinema não é impuro por ontologia, como afirmou André Bazin? Se sim, a crítica, afirma Frodon, é mais impura. No entanto, ao defender o cinema do restante do audiovisual (sim, uma defesa), vislumbra-se, nesse mundo audiovisual vulgar, uma visão romântica, uma busca de transcendência, do sagrado da arte. Uma pureza na impureza. E o crítico, essa figura tão impura, mais impura que o próprio cinema, também seria, de certa forma, um olhar sagrado, sábio, capaz de separar a arte superior da manifestação mundana. Tal postura tem coerência com a missão editorial de Frodon, depois de ter sido colocado na direção dos Cahiers pela direção do Le Monde, jornal hoje proprietário da revista. Há uma diferença entre cinema e audiovisual, cabendo ao crítico delimitar essas fronteiras, acha Frodon. Mas em vez de tirar o cinema do mundo para colocá-lo em um púlpito não seria politicamente mais fértil encarar o mundo onde habita o cinema?

“O cinema tem concorrentes muito poderosos hoje. Ele ainda existe, mas é minoritário, está passando por transformações enormes, em grande parte por conta dos avanços tecnológicos no som. O cinema é uma maneira de estabelecer uma relação entre imagens e a coletividade, entre imagens e imaginário, uma relação que nos permite dizer que algo é ou não cinema. Cahiers du Cinéma continua a se chamar caderno de cinema, e não caderno de imagens ou do audiovisual, porque acreditamos que o cinema continua a existir e a ter características próprias. E acho que cada vez que dizemos que tudo é a mesma coisa, imagem em movimento com sons que as acompanham, isso é sinal de uma derrota.” Questionado por mim sobre a pertinência de fechar os olhos para a imagem de forma mais ampla, enquanto campo de análise nos Cahiers, ele deu a seguinte resposta: “Ninguém seria louco de negar a existência de todas as outras modalidades audiovisuais, mas a presença das imagens é esmagadora e às vezes não queremos ser esmagados, preferindo assumir certo distanciamento em relação a isso”.

Essa mesma atitude, de estabelecer uma elite e o restante, Frodon teve com a internet. Lamentou a migração de críticos de impressos para revistas virtuais e vinculou esse movimento a uma certa covardia e preguiça de se resistir nas redações. “Não é porque a internet dá possibilidade a qualquer um de escrever sobre cinema que todos podem ser considerados. Não é porque todos tinham lápis que todos podiam ser escritores. Acho lamentável a ida de críticos de jornal e revista para a internet. Às vezes falta coragem e preguiça para se continuar na imprensa. Quando algumas pessoas resistem às pressões, quando permanecem, resistindo, isso é significativo”. Talvez ele leve em conta em sua afirmação apenas ou principalmente o contexto francês, bastante singular no campo da crítica. Mas, independentemente disso, há nessa reação uma eleição dos impressos como espaço nobre da discussão cinematográfica, ignorando que, em alguns países, o melhor da reflexão sobre cinema está em revistas eletrônicas – não porque seus críticos sejam melhores, mas porque têm liberdade para exercitar seus interesses de forma mais selvagem, menos formatada pela lógica jornalística e pautada pela agenda das distribuidoras. Não são em jornais e revistas que, no Brasil, têm-se lido os diagnósticos estéticos e políticos, seja exclusivos à produção nacional, sejam os referentes ao cenário mais amplo.

Talvez possa haver na defesa/proteção da pureza do cinema impuro e da nobreza da crítica impressa um apego a um circunstância histórica de outro momento. O cinema está, sim, mais complexo – e pede ferramentas mais complexas para se relacionar criticamente com ele. E a crítica não é mais exclusividade de jornalistas. É sua prática amadora que tem lhe dado pulmão.

Fonte: Revista Cinética




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