Crítico, o documentário






Sinopse
: 70 críticos e cineastas discutem o cinema a partir do sempre interessante conflito que existe entre o artista e o observador, o criador e o crítico. Entre 1998 e 2007, Kleber Mendonça Filho registrou depoimentos sobre esta relação no Brasil, Estados Unidos e Europa, a partir da sua experiência como crítico. Com depoimentos reveladores de criadores como Gus Van Sant, Tom Tykwer, Eduardo Coutinho, Curtis Hanson, Carlos Reichenbach, Walter Salles e Carlos Saura, Crítico abre uma janela para uma arte cada vez mais julgada por mecanismos de mercado, e que luta para permanecer humana tanto no fazer, como no observar.
Trailer disponível no You Tube http://www.youtube.com/watch?v=SDbgFqLyr4U

Isabela Boscov recomenda séries americanas!

Boscov é de longe a nossa autora mais requisitada, já que, escreveu 21 críticas de filmes nacionais na Veja entre o período de 1997 a 2004. Digamos que em seu “videoblog” pela primeira vez recomendou séries americanas! E me surpreendi com seu discurso televisivo:
“Não existe ambiente mais competitivo hoje em dia na indústria do entretenimento do que da TV americana, por causa disso, as séries TV tem dado de 10 nas produções de cinema, os roteiros são melhores, os atores são fantásticos, as historias são muito boas e no geral a satisfação de a gente tem assistindo uma série bem feita e bem escrita é bem maior hoje em dia do que aquela que fez um filme que parecia promissor e acaba sendo decepção. “
Isabela recomendou cinco séries, das quais, duas eu adoro! Que é Prison Break e Oz! E fiquei com vontade de ver Weeds pelo que Boscov descreveu me fez lembrar o filme “O barato de Grace”. As outras foram The Shield e The Wire
E vocês? Também concordam que séries americanas estão se saindo melhor que os filmes?
Eu digo que sim!
O vídeo:
http://veja.abril.com.br/isabela_boscov/dvds_series.shtml?CtrlMidia=15&CodMid=25012&SeqMid=2

O guia cinematográfico do perverso



Imperdível!
Ótima oportunidade para curar a ressaca do Bomfim.

Jogo de Cena de Coutinho

O mais recente documentário de Eduardo Coutinho brinca com o espectador: embaralha real e ficção num comovente registro de vidas femininas. Em cartaz na simpática sala de cinema da UFBA.
Abaixo alguns trechos da crítica publicada na Bravo!


Palavra de Mulher
por André Nigri

"Eduardo Coutinho está para o documentário brasileiro assim como David Wark Griffith, o autor do seminal O Nascimento de uma Nação, está para o cinema de ficção americano. Ele é o patriarca de onde todos descendem, o inventor de uma nova gramática, o criador de um estilo. Cabra Marcado para Morrer, de 1985, foi a grande influência dos documentaristas brasileiros contemporâneos. A principal inovação do filme é que a voz que narra não é mais de fora, e sim dos personagens, entrevistados à exaustão. Este "dar a voz ao outro" tinha fora do Brasil um modelo no qual se pode notar uma possível influência para Coutinho: o cinema-verdade francês. Em 1960, Jean Rouch e Edgar Morin exibiram Crônica de um Verão (que acaba de ser relançado em DVD), filme que aborda problemas existenciais de moradores de Paris, escolhidos ao acaso, a partir de uma questão: você é feliz? A temática de Cabra Marcado para Morrer é diferente, mas segue o princípio de dar voz aos outros. A partir dos anos 1980 é quase impossível não reconhecer a influência de Coutinho em documentaristas tão diversos, como João Moreira Salles (Peões), Thereza Jessouroun (Samba), Paulo Caldas e Marcelo Luna (O Rap do Pequeno Príncipe contra as Almas Sebosas), entre outros.

Como sempre no caso de Coutinho, a sinopse parece simples: atendendo a um anúncio de jornal, 83 mulheres contaram suas histórias de vida em um estúdio. Em junho do ano passado, 23 foram selecionadas e filmadas no Teatro Glauce Rocha, no Rio de Janeiro. Três meses depois, atrizes (entre elas Marília Pêra, Andréa Beltrão e Fernanda Torres) interpretaram, à sua maneira, as histórias contadas pelas personagens. Por exemplo, o caso de Sarita Houli Brumer, que fala sobre relações de perda com o pai e as dificuldades com a filha. Depois de seu primeiro depoimento, Sarita pediu para voltar e contar mais um pouco de sua história. É ela quem fecha o documentário. Outro depoimento comovente é de Débora Almeida, jovem que saiu do interior de Minas e engravidou ao chegar a São Paulo, enfrentando inúmeras dificuldades para sustentar o filho.

MEMÓRIA INVENTADA
Ao longo dos 105 primeiros minutos, vemos o Coutinho de sempre, capaz de arrancar belíssimas e impensadas histórias de seres anônimos. Neste caso, os temas podem ser resumidos no universo feminino: separações, perdas, depressão, gestação, relações familiares complicadas, sonhos, reconciliações. Até aqui, um documentário de Eduardo Coutinho clássico. É a partir daí que surge a inovação. No palco limpo de um teatro com cadeiras vazias, o espectador é confrontado com atrizes que não só representam as personagens anônimas como vez por outra são colocadas em situações reais, ao falar da dificuldade de interpretar e confessar momentos de suas próprias vidas.

Jogo de Cena trabalha com a matéria mais preciosa ao cinema de Coutinho, a memória. E a memória é uma invenção do passado, não cansa de dizer o cineasta. "Não me importo se o que as pessoas falam é verdade ou mentira, porque elas falam de memória, e a memória é traiçoeira. Mas dessa tensão nasce o imaginário, e isso é o importante", diz Coutinho. Desde Edifício Master (2002), o documentarista não se propunha a uma reflexão tão profunda sobre a tensão entre o real e o fictício. "Coutinho não possui uma concepção estanque do que é documentário, mas um pensamento complexo que se modifica a cada vez que ele se depara com um novo universo a ser filmado", diz Consuelo Lins, professora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora de um dos mais importantes livros sobre o cinema do autor - O Documentário de Eduardo Coutinho, Televisão, Cinema e Vídeo. "Nos filmes anteriores, ele não explorava tanto essa dimensão enganadora da linguagem. Agora, isso também está em discussão. Foi um passo radical na trajetória dele."

E é na novidade desses pequenos universos e das microhistórias contidas nele que Coutinho revigora a cada filme seu cinema. Um cinema de risco, como ele próprio admite, já que não se parte de um roteiro, mas de um "dispositivo", termo associado a ele e que designa os procedimentos de sua filmagem. Em muitos casos, ausência de som direto, cenários determinados e fechados e grandes pesquisas prévias. Para fazer O Fim e o Princípio (2005), o diretor e sua equipe de filmagens passaram um mês hospedados no sertão da Paraíba, sem um roteiro definido.

Em Jogo de Cena há também um claro diálogo com os reality shows da TV. "A televisão, seus programas vespertinos e mesmo os telejornais sempre exploram a miséria e a vida difícil do outro, mas é uma visão prepotente. O que me interessa aqui é falar com o outro, quero que ele se expresse, assim consigo torná-lo mais humano", diz Coutinho. Os longos planos também são indispensáveis para que essa voz saia. "Quem na televisão dá um único plano para uma única pessoa por mais de alguns segundos?", questiona ele. O cineasta João Moreira Salles, produtor de Jogo de Cena, escreveu certa vez sobre o diretor: "O cinema de Coutinho dedicou-se a reunir um conjunto de histórias fragilíssimas, oferecendo a cada uma delas aquilo que, em outros filmes e outras circunstâncias, elas não teriam: proteção". Se as histórias são verdadeiras ou não, é o que menos interessa."





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