Entrevista com Marcelo Hessel
1 Comentário(s) Publicado por Gustavo Ferreira em terça-feira, dezembro 04, 2007.
Mais uma entrevista! Desta vez com o "cozinheiro" do Omelete Marcelo Hessel que segundo o site www.omelete.com.br "Marcelo Hessel - Paulistano de Santo Amaro, nascido em 03/05/80. Jornalista formado pela Cásper Libero, como crítico de cinema integra a APCA, Associação Pauista dos Críticos de Arte, desde 2003. Em matéria de quadrinhos, curte o Cabeça de Teia, mas gosta mesmo é do Iznogoud e da Mamãe Dalton. Nas telas, gosta de ver quando o Brad Pitt apanha bastante. Atualmente planeja dominar o mundo e, paralelamente, reforçar o seu amor pela bela Camie."
GRACC - O que você pensa sobre a classificação ortodoxa das estrelinhas presente em quase toda a imprensa cinematográfica brasileira?
HESSEL – As estrelinhas são apenas mais um desdobramento de um processo muito maior, que é a forma efêmera e mastigada como informação se espalha hoje em dia. Conferir só a estrelinha é como folhear uma revista e só ver fotos e ler as aspas. Existe uma demanda do leitor por esse tipo de "projeto gráfico", e, no que toca a grande mídia, ignorar essa demanda seria um anacronismo. Dito isso, não tenho nada contra estrelinhas se elas virem acompanhadas de um texto com argumentos que justifiquem a cotação.
GRACC - Muito se questiona sobre a verdadeira função da crítica cinematográfica, se para esta é reservado o papel de avaliar, informar, entreter, ou ainda enquadrar-se enquanto arte. Para você, qual seria a função predominante da crítica na atualidade?
HESSEL – A função da crítica na atualidade é a mesma função da crítica em qualquer tempo: servir como mediador entre a obra de arte e o público, "traduzi-la" para o espectador em relação ao que aquele filme representa como manifestação de um tempo, de uma filmografia, de um estilo. O crítico coloca em contexto aquilo que o espectador dificilmente guardará para além do término da sessão. Sua função predominante é refletir sobre os filmes – e isso pressupõe dar tempo para os filmes maturarem. Dito isso, o que se faz nos principais veículos impressos do país hoje, com textos que saem no mesmo dia das estréias, não é crítica, mas orientação de consumo.
GRACC - Você acha que hoje existe um "divórcio" entre a crítica e o público no Brasil?
HESSEL – O divórcio existe no mundo todo, não é exclusividade do Brasil. Crítica é trincheira, mais do que nunca, especialmente porque o público é criado no tempo da TV, do zapping, da clipagem, e imersão em cinema é uma coisa completamente distinta.
GRACC - O que você pensa sobre a descentralização dos espaços da crítica de cinema que hoje migrou, sobretudo, para a internet?
HESSEL – Penso que a descentralização está salvando – se não está salvando, ao menos está dando sobrevida – a crítica de cinema no Brasil. Sites como Cinética e Contracampo fazem crítica de uma forma que veículos impressos tradicionais não comportam mais: sem compromisso com a "agenda cultural".
GRACC - O jornalista Daniel Piza (Jornalismo Cultural, ed. Contexto, 2004) afirmou que a relação da crítica de cinema com a produção nacional passou, desde 1994, por um certo paternalismo e "confundiu-se a satisfação por ver sua retomada com mérito verdadeiro de cada um dos filmes". Qual a sua opinião sobre o relacionamento entre a crítica e o cinema da retomada?
HESSEL – O paternalismo existe, porque somos uma nação mimada que enxerga a auto-crítica como uma forma de ofensa. Mas não dá para generalizar. Para dizer que a produção "desde 1994" não tem "mérito verdadeiro" é preciso ir aos filmes. Quantos foram produzidos nestes 13 anos? Quantos são ruins? Quantos são bons? Os ruins são maioria? O que eu digo é que a qualidade de uma parcela considerável do cinema – tanto ficcional quanto documental - que se faz hoje no Brasil justifica os elogios.
GRACC - Como você avaliaria a crítica de cinema no Brasil?
HESSEL – Se o que você está pedindo é uma avaliação da crítica de cinema no Brasil em todos os tempos, e não apenas na atualidade, te digo que a crítica feita nos anos 60 e 70, particularmente nos meios acadêmicos, soube dar conta muito bem dos fenômenos cinematográficos de suas épocas (Cinema Novo, em especial). Mas repito: o que se faz nos principais veículos do país hoje, e na mídia de modo geral, com textos que saem no mesmo dia das estréias, não é crítica, mas orientação de consumo.
GRACC - O que você pensa sobre a classificação ortodoxa das estrelinhas presente em quase toda a imprensa cinematográfica brasileira?
HESSEL – As estrelinhas são apenas mais um desdobramento de um processo muito maior, que é a forma efêmera e mastigada como informação se espalha hoje em dia. Conferir só a estrelinha é como folhear uma revista e só ver fotos e ler as aspas. Existe uma demanda do leitor por esse tipo de "projeto gráfico", e, no que toca a grande mídia, ignorar essa demanda seria um anacronismo. Dito isso, não tenho nada contra estrelinhas se elas virem acompanhadas de um texto com argumentos que justifiquem a cotação.
GRACC - Muito se questiona sobre a verdadeira função da crítica cinematográfica, se para esta é reservado o papel de avaliar, informar, entreter, ou ainda enquadrar-se enquanto arte. Para você, qual seria a função predominante da crítica na atualidade?
HESSEL – A função da crítica na atualidade é a mesma função da crítica em qualquer tempo: servir como mediador entre a obra de arte e o público, "traduzi-la" para o espectador em relação ao que aquele filme representa como manifestação de um tempo, de uma filmografia, de um estilo. O crítico coloca em contexto aquilo que o espectador dificilmente guardará para além do término da sessão. Sua função predominante é refletir sobre os filmes – e isso pressupõe dar tempo para os filmes maturarem. Dito isso, o que se faz nos principais veículos impressos do país hoje, com textos que saem no mesmo dia das estréias, não é crítica, mas orientação de consumo.
GRACC - Você acha que hoje existe um "divórcio" entre a crítica e o público no Brasil?
HESSEL – O divórcio existe no mundo todo, não é exclusividade do Brasil. Crítica é trincheira, mais do que nunca, especialmente porque o público é criado no tempo da TV, do zapping, da clipagem, e imersão em cinema é uma coisa completamente distinta.
GRACC - O que você pensa sobre a descentralização dos espaços da crítica de cinema que hoje migrou, sobretudo, para a internet?
HESSEL – Penso que a descentralização está salvando – se não está salvando, ao menos está dando sobrevida – a crítica de cinema no Brasil. Sites como Cinética e Contracampo fazem crítica de uma forma que veículos impressos tradicionais não comportam mais: sem compromisso com a "agenda cultural".
GRACC - O jornalista Daniel Piza (Jornalismo Cultural, ed. Contexto, 2004) afirmou que a relação da crítica de cinema com a produção nacional passou, desde 1994, por um certo paternalismo e "confundiu-se a satisfação por ver sua retomada com mérito verdadeiro de cada um dos filmes". Qual a sua opinião sobre o relacionamento entre a crítica e o cinema da retomada?
HESSEL – O paternalismo existe, porque somos uma nação mimada que enxerga a auto-crítica como uma forma de ofensa. Mas não dá para generalizar. Para dizer que a produção "desde 1994" não tem "mérito verdadeiro" é preciso ir aos filmes. Quantos foram produzidos nestes 13 anos? Quantos são ruins? Quantos são bons? Os ruins são maioria? O que eu digo é que a qualidade de uma parcela considerável do cinema – tanto ficcional quanto documental - que se faz hoje no Brasil justifica os elogios.
GRACC - Como você avaliaria a crítica de cinema no Brasil?
HESSEL – Se o que você está pedindo é uma avaliação da crítica de cinema no Brasil em todos os tempos, e não apenas na atualidade, te digo que a crítica feita nos anos 60 e 70, particularmente nos meios acadêmicos, soube dar conta muito bem dos fenômenos cinematográficos de suas épocas (Cinema Novo, em especial). Mas repito: o que se faz nos principais veículos do país hoje, e na mídia de modo geral, com textos que saem no mesmo dia das estréias, não é crítica, mas orientação de consumo.
Mto boa a entrevista! curto, de linguagem objetiva e posturas claras o Hessel!
ps. alguém aí assistiu o magnata??
bjos!
Nanda