Borat, o falso documentário longa metragem do comediante inglês Sacha Baron Cohen se propõe a denunciar, através do riso, os costumes "estranhos" da sociedade norte-americana. Borat Sagdiyev, repórter cazaque enviado aos Estados Unidos para aprender os modos de vida americanos para benefício do Cazaquistão, põe em cheque as convenções da terra de Bush contextualizando-as em quadros onde se sobressai o seu lado ridículo. Talvez a cena que melhor resuma esta abordagem seja quando Borat inflama o público de um rodeio com seus clamores cada vez mais desumanos ("que os EUA não descansem até matar todos os homens, mulheres e crianças no Iraque"; "que Bush possa beber o sangue de cada terrorista..."). O público passa de entusiasmado a revoltado ao perceber que suas posições os tornam condenáveis pelos próprios valores que cultuam.
Borat, contudo, não é um olhar do Oriente Médio sobre o Ocidente, mas sim uma obra metalinguística dos americanos sobre si mesmos. Curiosamente, a mesma abordagem praticada para denunciar as contradições da sociedade que, antes, havia sido designada para ensinar um estilo de vida ao Cazaquistão, poderia ser aplicada nos países do Oriente Médio, que clamam por paz e liberdade enquanto nutrem paixões discretas pela antigas formas de Estado Teocrático. Borat diverte por fazer uma autocrítica (ainda que disfarçada de crítica) leve e ácida. Dá pra fazer pensar sem pretender formar ativistas.
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